A professora de matemática Andréia, juntamente com o 2º ano do Ensino Médio Inovador desenvolveram durante o 2º bimestre o projeto: África o berço da matemática. Este projeto foi desenvolvido em várias etapas e contou com a construção de diversas atividades, pesquisas, palestra, filme, jogos, oficinas para o magistério. O trabalho teve a participação das disciplinas de geografia e português, e desenvolveu nos alunos diversas habilidades e competências.
Este projeto participou da Feira de Matemática - etapa regional e ficou em 1º lugar, irá representar Joinville na etapa estadual em Timbó nos dias 26,27 e 28/10/2016.
Participou também da etapa regional da Feira de Ciências e Tecnologia.
Parabéns a professora Andréia e a todos os estudantes e professores envolvidos.
ÁFRICA O BERÇO DA MATEMÁTICA
RESUMO Este projeto foi desenvolvido no segundo ano de
Ensino Médio Inovador da Escola de Ensino Médio Governador Celso Ramos com principal objetivo de resgatar a importância da cultura
Afro em nossa sociedade, sua influência na formação étnica atual e no meio sociocultural
por meio da Afroetnomatemática. A Afroetnomatemática é uma vertente da
Etnomatemática. Foi resgatado a história da matemática, oriundas do continente
africano abordando os primeiros indícios de contagem, através do osso de Ishango, o jogo mais antigo do mundo , a Mancala, fractais,
gráficos conhecidos como Sona, a música, capoeira e o jogo do búzios, este último, teve o intuito é
definir probabilidade. Através de pesquisas realizas em sala
de aula, foi constatado que é possível abordar vários conteúdos matemáticos
através da história da África e contextualizá-las através de situações
problemas.
Palavras-chave: Etnomatemática.
Afroetnomatemática. Probabilidade. Búzios
INTRODUÇÃO
Todos
os povos têm os seus saberes, seu acúmulo específico de experiências,
aprendizados e invenções. O raciocínio, a razão, o pensamento lógico e
abstrato, as capacidades de observar, comparar, medir, selecionar, estão presentes
em todas as sociedades, de diferentes etnias. Em julho deste ano, foi dado
inicio a atividade do programa Etnomatemática
com os alunos do segundo ano inovador da Escola de Ensino Médio Governador
Celso Ramos. Para D’ Ambrósio a Etnomatemática:
Tem seu comportamento alimentado pela aquisição de
conhecimento, de fazer (es) e de saber(es) que lhes permitam sobreviver e
transcender, através de maneiras, de modos, de técnicas, de artes (techné ou 'ticas') de explicar, de conhecer,
de entender, de lidar com, de conviver com (mátema) a realidade
natural e sociocultural (etno) na qual ele, homem, está inserido
(D’AMBROSIO, 2005, p. 99-120).
A Afroetnomatemática é a vertente deste
programa, que visa o estudo dos aportes africanos e afrodescendentes à
Matemática. Sendo assim, os temas abordados, o osso de Ishango, o jogo Mancala,
fractais, gráficos na areia também conhecidos como gráfico de Sona, capoeira e
o jogo dos búzios, propiciaram aos alunos a construção de situações problemas
através da história para o estudo da probabilidade. Este conteúdo faz parte da
matriz curricular do segundo ano do Ensino Médio.
Conforme Proposta Política e Pedagógica da
Escola, de forma democrática e comprometida com a promoção do ser humano na sua
integralidade, seu papel é estimular a formação de valores, hábitos e
comportamentos que respeitem as diferenças e as características próprias de
grupos e minorias. Sendo assim, o principal objetivo do projeto é resgatar a
importância da cultura Afro em nossa sociedade, sua influência na formação
étnica atual e no meio sócio cultural através da Afroetnomatemática.
Este
projeto atende ao solicitado pela Lei 11.645:
§1o-O
conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da
história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a
partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e
dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura
negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e
política, pertinentes à história do Brasil.
§2o Os conteúdos referentes à história e cultura
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileiras.” (BRASIL, 2008).
Desse
modo, foi entendido neste projeto que, discutir relações étnicos raciais que
permearam a construção desse país, deve ser uma obrigação de todos os cidadãos.
Sendo assim, foi realizado neste trabalho uma ligação com a Matemática e a
contribuição dos Africanos e Afros descendentes na história da mesma.
Todavia,
a matemática não precisa ser só no papel, pode começar na cabeça, exercitando
as habilidades da memória e da oralidade, ir para os jogos, brincadeiras, e adivinhações,
arte e outras possibilidades.
Através das pesquisas realizadas em sala de
aula, foram abordados vários conteúdos matemáticos através da história da
África como, por exemplo, frações na música, análise combinatória nos gráficos
de Sona, formas geométricas nos fractais, raciocínio lógico no jogo Mancala,
números primos no osso de Ishango, ângulos na capoeira e por fim, probabilidade
no jogo de búzios.
Cientes de que o racismo permanece
vivo e
atualizado pelo desenvolvimento das relações de produção capitalistas
contemporâneas, através desse projeto repensamos a história dos africanos e de
seus descendentes, articulando os conflitos da humanidade como um todo.
De
acordo com nossas pesquisas, aprendem-se na Capoeira de Angola que somos nós os responsáveis por
nossa história e que, portanto, frente às ofensivas da vida cabe a nós buscar a
emancipação. Talvez seja esta a principal mensagem que a Lei 11.645/08 enfatiza
ao olhar para o passado de glória das civilizações africanas. Sendo assim, todo
este legado nos oferece subsídios para lutar no presente em busca de um futuro melhor.
MATERIAL E MÉTODOS
Na última semana de julho, foi dado o inicio
ao projeto África o Berço da Matemática com os alunos do segundo ano inovador
da Escola de Ensino Médio Governador Celso Ramos. Foi assistido pelos alunos o
filme Besouro. Este remete um pouco da história dos afrodescendentes no Brasil,
relatando a história da capoeira e da religião desse povo. Em seguida, a classe
foi dividida em quatro equipes de cinco alunos e cada equipe recebeu um tema
conforme suas propensões que foi observada ao longo do ano letivo na sala de
aula, na convivência com os alunos nos intervalos e nas atividades extraclasse
como, por exemplo, o show de Talentos. Os temas abordados foram: O osso de Ishango
e o jogo Mancala; os fractais e os gráficos de Sona; a música africana; a
capoeira e jogo de búzios. Com os temas definidos, foi dado inicio as pesquisas
para elucidar o significado e a ligação de cada um com a matemática. Em
seguida, cada equipe apresentou em sala
de aula sua pesquisa em forma de vídeo ou Power point.
A primeira apresentação abordou o tema osso de Ishanco e o
jogo Mancala, o registro de número mais antigo do mundo é osso de Ishango, este
trouxe informações sobre os primeiro indícios de contagem, o que leva a crer
que foi utilizado como um calendário ou um utensílio doméstico. Para uma melhor
explanação do tema, os alunos construíram uma réplica do osso de Ishango que
demonstra uma sequência de números primos, somas e subtrações. Sobre o jogo Mancala,
os alunos explanaram a história e ensinaram os colegas a jogar em sala de aula . Durante as aulas que foram
disponibilizadas para essa atividade foi possível aprender as regras e compará-las
com situações do dia a dia, como exemplo na agricultura, o jogo vem do ato de
semear ( a medida que você distribui as
sementes no tabuleiro), o cultivo (conforme jogada da vez ) e a colheita (
recolher o maior número sementes possíveis. Para finalizar, foi realizada com
as turmas do magistério uma oficina sobre o jogo Mancala utilizando apenas caixas
de ovos e sementes de milho, com o intuito de incentivar as alunas a
trabalharem com jogo Mancala na educação
infantil a qual a maioria já está inserida no mercado de trabalho ou ainda
estão aplicando seus estágios.
A segunda equipe trouxe a história dos fractais e gráficos
de Sona em forma de vídeo com muita cor e imagens. Vale ressaltar que essas
eram espetaculares. Os fractais são formas geométricas representadas por
equações matemáticas através de repetições, característica essa utilizada pelos
povos indígenas africanos para suas pinturas em rosto. Foi através dessa
pesquisa que foram realizadas a construção de máscaras africanas. Foram
utilizados para isso: balão, jornal, cola e tinta . Os gráficos de Sona
permitiu a utilização da análise combinatória para sua interpretação, além das
lendas que cada desenho traz .
Já a terceira equipe apresentou a música através dos sons
do violino , mostrou todos os instrumentos musicais utilizados no Brasil
de origem Africana. Além de construir uma réplica do monocórdio de Pitágoras para explicar frações e como o som se propaga através de uma curva
estabelecendo relação com o conteúdo de trigonometria.
A última e quarta equipe trouxe a capoeira como modelo de
ensino para ensinar ângulos abordando a história e os tipos de capoeira que
existem no mundo. Para enriquecer a apresentação
eles mostraram um vídeo referente ao festival de dança de Joinville sobre
ritmos africanos. E, através da parceria com o mestre Diogo um ex aluno da
escola, os alunos participaram de uma roda de capoeira, onde puderam conhecer
os movimentos da dança ao qual foi definido alguns ângulos e a simetria dos
movimentos.
O jogo de búzios foi utilizado como método de ensino para
estudo de probabilidade nas aulas de matemática, onde os alunos tiveram que contextualizar
a história dos búzios e resolver situações problemas como: Em uma lançamento de
seis búzios qual é a probabilidade de caírem três búzios abertos e três fechados?
Para
um melhor esclarecimento da história dos búzios no Brasil foi convidado o
Professor Doutor Gerson Machado especialista em religiões afro e
afrodescendentes na região de Joinville , para ministrar uma palestra que proporcionou muito
aprendizado aos alunos. A palestra veio em encontro com a primeira atividade do
projeto, quando foi assistido o filme Besouro, que desmistificou alguns mitos,
a qual os alunos ficaram intrigados sobre os poderes de Oxum.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando
iniciado este projeto, foram percebidos em nossa escola, alguns problemas de
preconceito e também muitas dúvidas sobre como trabalhar a questão afro e
afrodescendentes com os estudantes. Depois de iniciar as atividades, foram
observadas várias mudanças de postura e atitude na maioria dos educandos
envolvidos. Dentre elas podemos destacar, o reconhecimento de si e do outro
como partícipe de diferentes grupos sociais e étnicos, com atitudes de
respeito, superando preconceitos e discriminações.
Foi
observado também o resgate da autoestima dos alunos afro e afrodescendentes,
considerável diminuição dos apelidos e bullyng gerados por alguns alunos da
escola.
O
resgate da importância e da história dessa etnia foi fundamental para essa mudança.
O jogo da Mancala fez tanto sucesso na escola, que o mesmo passou a ser
utilizado nas aulas de educação física, nas horas de recreação mesmo quando a
professora de matemática não estava presente, propiciando a participação e
divulgação entre outros alunos.
A
aluna Sofia relatou o interesse de sua mãe no desenvolvimento do projeto e
levou o jogo para casa. A mesma relata em conversa via watts app que a mãe
também é professora e gostou tanto, que utilizou como ferramenta de trabalho com
seus alunos. Foi percebido também, a dedicação e o interesse pelo assunto
quando os alunos abordaram o tema Black face, as questões de cotas e outros
assuntos pertinentes a história dos afro e afrodescendentes que foram debatidos
nas aulas de Língua Portuguesa e Geografia.
É
importante enfatizar que a participação dos pais foi fundamental nesse
trabalho, principalmente na construção das máscaras e do monocórdio de
Pitágoras.
É
certo que o projeto cresceu e ultrapassou os muros da escola, a inserção da
Afroetnomatemática no ensino da matemática favoreceu o ato de respeito mútuo,
autoestima, a criatividade e o comprometimento com os estudos.
CONCLUSÕES
O sucesso das atividades desenvolvidas foi muito
gratificante e fez valer a pena todos os esforços.
O interesse e a motivação despertados nos estudantes com
relação às aulas de Matemática evidenciaram a necessidade de buscar novos
métodos para “alcançar” os alunos, que diante de atividades como essas ficam
mais receptivos a todas as outras (inclusive aos conteúdos regulares).
Outro ponto importante, é que não foram necessários grandes
investimentos financeiros para o desenvolvimento das atividades que despertam motivação
nos alunos. Basta a busca de parcerias
que visam o mesmo objetivo que a escola. Muitas vezes com custo zero, usando os recursos
já disponíveis, é possível desenvolver atividades muito proveitosas e trabalhar
conteúdos contextualizados pela nossa própria história ou de outras etnias.
REFERÊNCIAS
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática- elo entre as tradições e modernidade. 2. Ed.
2ª reimp. – Belo horizonte: Autêntica, 2005.
(Coleção Tendências em Educação Matemática)
BRASIL. Lei 11.645/08 de 10 de Março de 2008. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília. 115 BRASIL. Ministério da Educação. “Plano Nacional
de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana”. Novembro de 2009.